O fim de um ciclo

 


No final do ano passado, estive conversando com uma agência de publicidade com foco no mercado literário para recrutar influenciadores literários para uma leitura coletiva de meu romance “Anos de Chumbo”.

Quando o publiquei, no aparentemente longínquo ano de 2015, tentei “na raça” ir atrás de blogueiros oferecendo uma cópia do livro em troca de uma resenha. Quando recebia “nãos” - e mesmo nos comentários dos posts originados pelos raros “sim” - a ladainha era a mesma: “deve ser um livro muito pesado”.

Sim, é uma narrativa séria, como deve ser encarado nossa história recente. E então veio um golpe para os sonhadores.

Não digo que meu livro, single-handedly, poderia ter sido capaz de frear o autoritarismo e o negacionismo. Mas digo que não considerei as “viúvas da ditadura” nos primeiros anos de divulgação do romance. Mas em 2024 não podia mais ignorá-las.

Tive receio em encontrar algum influencer de extrema-direita - porque surpresa! Alguns deles sabem ler - que desmereceria meu livro no encontro virtual que era parte do pacote oferecido pela agência e eu, de raciocínio lento, não soubesse retrucar. Desisti.

Mas percebo que minha desistência é não uma demonstração de fraqueza, mas o fechamento de um ciclo. Fui muito lida? Não. Mas a mudança que meu primeiro romance causou na minha vida foi significativa.

Foi durante a divulgação do livro que conheci minha hoje grande amiga Rafaella Britto, que publicou uma linda resenha dele em seu blog Império Retrô. Passamos a conversar sobre assuntos diversos, principalmente cinema e literatura, e ela me sugeriu escrever sobre filmes feministas. Foi a semente para o site Cine Suffragette, do qual tanto me orgulho; com colaboradoras fantásticas estamos há oito anos sendo resistência.

Meu livro segue à venda - inclusive o advogado da família comprou e leu por causa da minha divulgação no TikTok! Mas é agora também presente: dei de presente para várias pessoas queridas, como a amiga e colaboradora do Cine Larissa Oliveira, que depois postou foto com o livro indo votar contra o fascismo e me contou que imaginou os personagens como os da minissérie Anos Rebeldes.

Sigo escrevendo. Prosa e poesia. Versos, contos, crônicas. Estou trabalhando em um novo romance, para abrir um novo ciclo. Vamos nessa?

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