Bicentenário de Maria Firmina dos Reis: lendo o conto “A Escrava”

Em 11 de outubro de 2025, são celebrados os 200 anos de nascimento de Maria Firmina dos Reis, a primeira romancista brasileira - como você pode conferir AQUI. Em homenagem à data, li o conto “A Escrava”, e aqui vão minhas impressões.

“A Escrava” foi publicado em jornal em 1887 e trata-se de um relato de uma senhora abolicionista contando um causo. Numa tarde de agosto, passou por ela, correndo, uma escrava (sic, hoje usamos o termo “escravizada”). A ela seguiu-se um feitor, curiosamente de pele parda e que classificava a fugitiva como “douda”, e o filho da mulher, Gabriel. A narradora-personagem despista o feitor e acolhe a mulher, que lhe conta sobre sua trajetória no cativeiro, de menina livre a pequena escravizada, passando pelo traumático rapto de seus filhos gêmeos ainda na infância para serem vendidos.

O conto foi publicado no auge do movimento abolicionista, mas na província do Maranhão, cuja elite era majoritariamente branca e arraigada na suposta necessidade de se manter a prática da escravidão, sendo ainda polo importante do tráfico interprovincial de escravizados. Como evidencia Marcos Aurélio Santos Pereira, a imagem de uma sociedade extremamente escravista era “caricaturada em vários artigos de jornais de outras províncias do Brasil, que faziam representar a província maranhense como sendo sempre a mais atrelada ao escravismo, dentre todas as outras do Império brasileiro” (PEREIRA, 2007, p. 78 apud CATANHEDE, 2019).

No Maranhão, como em todo o Brasil, não se podia mais ser imparcial quanto à questão da escravidão. A maioria dos periódicos impressos, na época, era constituída de artigos de opinião, com uma minoria de artigos informativos isentos. Sobre a censura aos jornais, observava-se que:

Quanto à estrutura do conto “A Escrava”, demorei alguns minutos a me acostumar com a ausência de travessões e presença de vírgulas para separar as interpelações da narradora das falas da mesma. Mas isso não foi um grande problema. Com linguagem semelhante aos contemporâneos do Romantismo e Realismo literários, este conto é uma ótima introdução à literatura da grande Maria Firmina dos Reis.

Frase favorita: “Mas, deixar de prestar auxílio àqueles des­graçados, tão abandonados, tão perseguidos, que nem para a agonia derradeira, nem para transpor esse tremendo portal da Eternidade, tinham sosse­go, ou tranquilidade! Não.”

O conto “A Escrava” pode ser lido no portal Literafro da UFMG.

Monografia pesquisada: 
https://repositorio.uema.br/bitstream/123456789/3213/3/MONOGRAFIA%20-%20Ana%20Alice%20Araujo%20Cantanhede%20-%20HIST%C3%93RIA%20UEMA%202019.pdf

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