Resenha: Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago
As mais loucas hipóteses podem dar origem a excelentes livros.
Provavelmente grandes obras da literatura mundial surgiram através de ideias
malucas como: “Seria possível dar a volta ao mundo em 80 dias?” ou “Como a
Revolução Russa poderia ser contada através de uma alegoria usando animais da
fazenda?” ou “O que seria de uma sociedade em que ler é proibido e os
bombeiros, ao invés de apagar o fogo, tivessem como função queimar livros?”. O
único autor de língua portuguesa premiado com o Nobel, José Saramago, usou várias
vezes hipóteses incrivelmente criativas como mote de seus romances e sempre
obteve fantásticos resultados.
O livro começa com uma epidemia misteriosa de cegueira. No meio do
trânsito, um homem perde a visão e a partir daí se espalha o caos. Cada pessoa
tem contato com outros “infectados”, e o caso se torna motivo de atenção
governamental. Em três dias as primeiras vítimas são isoladas em um hospício
desativado, vigiadas por oficiais medrosos do exército que não pensam duas
vezes para atirar. E a falta da visão, como era de se esperar, deflagra
desespero, confusão e leva os cegos a um estado quase animalesco.
Nenhum personagem possui nome, são todos tipos: um motorista de táxi,
uma enfermeira, um garoto estrábico, um oftalmologista, o primeiro cego, a mulher
do primeiro cego... Como se faz questão de dizer, na situação em que se
encontram não importam nomes ou outras características pessoais. A única pessoa
que não está cega neste meio é a esposa do oftalmologista, que tenta coordenar
os internos e ao mesmo tempo manter a mentira de que está ela também cega. Toda
essa generalização serve para mostrar que essa história que mais parece de
terror não precisa ocorrer apenas na Portugal natal do autor José Saramago, mas
em qualquer lugar do mundo.
Em tempos de crise, e nesse caso em que não se sabe o que causa ou
como parar a crise, o governo não ajuda. A decisão de enclausurar os cegos e
deixá-los lá à própria sorte, enviando comida de vez e quando, foi ideia
governamental, e os soldados que vigiam o local querem apenas ficar livres do
perigo de também cegar. Considerando que Saramago viveu durante a ditadura em
Portugal, não é de se espantar que ele tenha essa visão negativa sobre governo
e exército.
Difícil largar um livro como “Ensaio sobre a Cegueira”. De início, o
estilo do autor, com diálogos inseridos no meio do parágrafo, sem divisão em
capítulos, com pouco tempo para respirar entre as frases, pode parecer obra de
alunos que tirariam nota baixa em redação. Mas não é. Aos poucos nos
acostumamos com o estilo de Saramago e descobrimos que nada pode nos impedir de
ir mais a fundo na história, procurando seu cerne e ansiosos pelo seu
desfecho.
Confesso que nunca li nada do Saramago, mas escuto muitos elogios. Quem sabe um dia leia algum!!!??? Vi o filme desse livro e achei forte, mas interessante. Parabéns pela leitura e resenha adorei!!!
ResponderExcluirLeituras, vida e paixões!!!