DPL: Cecília Meireles contemporânea
A
missão expert da segunda parte do desafio literário exige um bocado
de pesquisa e imaginação: descrever como Cecília Meireles seria,
agiria e viveria no século XXI (ela nasceu em 1901 e faleceu em
1964). Como ela pensaria e o que faria se pudesse vislumbrar nosso
mundo moderno e dar sua opinião? Que trabalhos ela teria escrito em
2014? O que faria de diferente?
Como
nossa nova Cecília se comunicaria? Através de blogs, um site
pessoal, uma página no Facebook? Estaria sempre na televisão?
Atrairia filas intermináveis de fãs nas feiras literárias e
bienais? Teria
fãs de todas as idades ou seria mais popular com alguns nichos
(mulheres, adolescentes, hipsters)?
De
algum modo, sinto que a Cecília Meireles moderna seria parecida...
comigo. A infância solitária cheia de livros e objetos a serem
descobertos e observados, a publicação do primeiro livro aos 18, a
realidade de jovem aluna inteligente, a escolha de trabalhar com
educação (embora hoje eu siga por outro caminho), a colaboração
com veículos literários... Mas não tenho a pretensão (e talvez
nem a sensibilidade) de ser Cecília Meireles...
Sem
dúvida a poesia moderna receberia de braços abertos nossa Cecília
Meireles do século XXI. Seus versos musicais e bem variados na
métrica e no esquema de rimas seriam bem-vindos (prova é que quase
todas as crianças lêem poemas de Cecília na escola). Ela também
faria sucesso com seus escritos introspectivos, porque os leitores
mais sensíveis percebem a necessidade de um pouco de solidão e
introspecção neste mundo moderno e tão caótico.
"...Liberdade,
essa palavra
que o sonho humano alimenta
que não há ninguém que explique
e ninguém que não entenda..."
(Romanceiro da Inconfidência)
que o sonho humano alimenta
que não há ninguém que explique
e ninguém que não entenda..."
(Romanceiro da Inconfidência)
Repare
nestes versos: eles parecem moderníssimos! Sim, poderiam ter sido
usados, lembrados, declamados durante a resistência contra a
ditadura, as Diretas Já, o impeachment de Collor e, inclusive,
durante as manifestações de junho de 2013. Se ela teria participado
de alguma forma dessas manifestações se fosse mais nova, isso já é
um mistério.
Cecília
foi a criadora da primeira biblioteca infantil do Brasil, e hoje
certamente estaria envolvida em algum projeto para levar cultura e
leitura às crianças de todas as classes sociais.
Temos
a impressão que seu tom feminino influenciou, de uma forma ou de
outra, todas as escritoras brasileiras que vieram depois dela.
Poderia
ter sido amiga ou correspondente de Clarice Lispector (e talvez
conseguisse tornar mais fácil a leitura do estilo “fluxo de
consciência” de Clarice). As escritoras de livros infantis beberam
da fonte de Clarice: Lygia Bojunga, Ana Maria Machado, Lygia Fagundes
Telles (que não escreve para crianças, mas aborda alguns temas
comuns à Cecília, como a morte)... Mesmo sendo difícil pensar
nisso, há um pouco de Cecília em Martha Medeiros, em Ana Cristina
César, em Thalita Rebouças, em Bruna Vieira, em Paula Pimenta... e
em mim. Porque todas nós dependemos da pioneira que nos abriu o
caminho e mostrou que, mesmo se desdobrando em atividades para
sobrevivência, é possível – e é vital – fazer arte no Brasil.
Tanto é que, em sua última entrevista, Cecília declarou:
“Você
sabe que eu tenho muito medo da literatura que é só literatura e
que não tenta comunicar?”
Olá Lê, não conhecia esse blog, já sigo você lá no critica retro e passei pra conhecer esse também, obrigada pelo comentário no blog. bjuxxx
ResponderExcluirwww.casacherry.blogspot.com.br
Oi Lê!
ResponderExcluirCecília foi incrível não?
E acho que você completou perfeitamente essa parte do desafio :)
Beijos
LiteraMúsicas