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Mostrando postagens de 2023

Resenha: Depois que as luzes se apagam, de Tadeu Rodrigues

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  Pode uma história feita de clichês ser completamente original? Se estivermos falando do laureado romance de Tadeu Rodrigues, “Depois que as luzes se apagam”, a resposta será um sonoro SIM. Partindo de clichês nada baratos, ele conta a amizade entre um ancião e uma criança doente que nos arrebata, nos emociona, nos faz sonhar e por fim nos surpreende. Estevão tem oito anos. Nosso narrador, oitenta. O que une um ao outro é a finitude: Estevão é um menino doente, nosso narrador, apesar de aparentemente são, também está no fim da vida. Estevão é morador do terceiro andar do Edifício Fabuloso, onde nosso narrador também mora, num quartinho próprio para abrigar o porteiro do prédio. Em vez de ir à escola, Estevão perambula pelo prédio, até chegar ao quartinho do porteiro. Lá, nasce uma amizade nada improvável. Neste edifício de nome imponente a amizade se desenvolve na portaria e no saguão, culminando com a montagem de um circo de papelão. Com uma persona de palhaço que é “um tanto C

Resenha: coletânea de contos “Cor Não Tem Gênero”

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  Desta vez, uma coisa diferente: uma resenha de uma coletânea que reuniu oito autores para contar histórias LGBTQIA+. Em cada parágrafo, algumas impressões sobre os oito textos que li para encontrar inspiração para um conto no qual estou trabalhando. O primeiro conto, “Tudo que não precisa ser dito”, foi escrito por Luiz Gouveia. Nele, um estudante de uma arcaica escola só para meninos localizada - presumo pelos nomes dos personagens - na Inglaterra ou outro país de língua inglesa se apaixona por um novo colega de classe. Não é a primeira paixão dele por outro menino - sendo que, numa ocasião anterior, seu sentimento foi considerado doença. O conto se passa numa época em que homossexualidade era considerada crime, daí a relação dos meninos estar duplamente em perigo. Tudo parece muito comum no conto, até que chegamos ao clímax: aí há uma divisão, com dois finais possíveis, e cabe ao leitor escolher o final para o amor proibido entre Sebastian e Augustus. “Camisetas, cores e confus

Resenha: A Redoma de Vidro, de Sylvia Plath

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  Existem livros que entram na nossa vida e ficam na nossa lista de “próximas leituras” por muito tempo, até surgir a oportunidade perfeita. “A Redoma de Vidro” foi um desses livros. Ouvi falar através de amigas - que inclusive o têm como livros que mudaram a vida delas - e sempre quis lê-lo. O grande dia chegou, quando foi escolhido como livro do mês do clube de leitura Feito por Elas. Li-o, apreciei muito a prosa única de Sylvia Plath, e terminei-o num dia sugestivo: no segundo aniversário de minha tentativa de suicídio. Conhecemos Esther Greenwood quando ela está fazendo um estágio numa revista em Nova York. Nesta primeira metade do livro, suas interações com as outras meninas que moram no mesmo hotel que ela são o ponto alto da narrativa. É pelos olhos de Esther que conhecemos Doreen, Betsy, Hilda e outras que são só citadas. Mesmo em um meio glamouroso e excitante, Esther já demonstra certa apatia, bastante presente, por exemplo, em sua birra com filmes em Technicolor, que eram a

Resenha: Constelação de Gênios, uma biografia do ano de 1922, de Kevin Jackson

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  O que faz de um ano extraordinário? Nas nossas vidas de reles mortais, pode ser um acontecimento, um marco, uma grande viagem ou uma conquista espetacular. Mas e se estivéssemos falando mais objetivamente: o que faz de um ano extraordinário? 1922 certamente foi extraordinário para muitas pessoas que o viveram, mas por si só, pelas coisas que aconteceram neste ano, 1922 pode ser considerado extraordinário. É isso que defende, em um calhamaço de quase 600 páginas, o autor Kevin Jackson. E é essa biografia do ano de 1922 que eu me comprometi a ler em 2022, cem anos após os fatos narrados terem acontecido. 1922 é o ano em que se passa a ação do grande romance norte-americano “O Grande Gatsby”. Foi o ano em que estrearem filmes como “Robin Hood” de Douglas Fairbanks, “Nosferatu” e “Häxan”. Foi o ano da nossa Semana de Arte Moderna. E foi o ano em que duas obras literárias seminais foram publicadas: o romance “Ulisses” de James Joyce e o poema “A Terra Devastada” de T.S. Eliot. O livro t