Resenha: Rubaiyat, de Omar Khayyam

 


Virava e mexia, eu entrava no escritório do meu avô e encontrava o livro “Rubaiyat” de Omar Khayyam em cima da escrivaninha. Depois que meu avô se foi, resolvi lê-lo para entender melhor quem foi aquele homem, minha única figura paterna. Ler os livros favoritos de uma pessoa pode ser uma revelação.

“Rubaiyat” é um livro de poemas curtos escritos ao longo de vários anos no século XII. O nome da compilação foi dado pelo tradutor inglês Edwards Fitzgerald e significa “quarteto”. Fernando Pessoa foi bastante influenciado pela tradução de Fitzgerald, tanto é que sua edição pessoal, com notas de próprio punho, permanece em exposição na Casa Fernando Pessoa em Lisboa. No Brasil, em 1966 Manuel Bandeira publicou suas traduções para as quadras.


Os poemas versam sobretudo acerca da finitude da vida, da necessidade de aproveitar os amores e o vinho antes que seja tarde demais. O tom lúgubre de muitos destes versos se refletia perfeitamente em meu avô, pessoa super-preocupada e taciturna. Também contribui para essa visão o fato de o objeto que servia para ele de marcador de página ser uma cópia do igualmente negativo poema de Bocage “Meu ser evaporei na lida insana”.

Há muitos anos vi uma cinebiografia de Omar Khayyam, na qual ele era interpretado pelo hoje esquecido ator Cornel Wilde. Mais lembrado como o protagonista sofredor do noir “Amar foi a Minha Ruína” (1945), anos depois Wilde estrelou “A vida, amores e aventuras de Omar Khayyam” (1957). De biografia praticamente desconhecida, Khayyam seria por isso um prato cheio para especulações cinematográficas. Neste filme, enquanto escreve e é também matemático, divide o vinho com seus antepassados e perde o amor de sua vida para o Xá da Pérsia.

Lendo mais sobre o “Rubaiyat”, percebi como minha visão estava um bocado deturpada. Khayyam fala muito mesmo sobre a finitude da vida, mas nos convida a repensar nossas atitudes frente a ela. Aproveitemos, pois, os amores e as delícias antes que seja tarde.

Como de praxe, não darei nota a um livro de poemas, embora tenha compartilhado ao longo do post algumas das minhas quadras favoritas. Só digo que através da leitura me conectei mais com o homem que meu avô foi e por isso escolhi publicar esta resenha no dia em que ele faria 95 anos. Espero que ele tenha seguido os conselhos de Khayyam, pois eu com certeza vou segui-los.


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