Resenha: Fundo, de Beatriz Aquino
Um livro que é como um
mergulho: assim Beatriz Aquino, minha amiga, definiu seu “Fundo”, desejando na
dedicatória “bom mergulho”. Ora, para todo bom leitor, não é todo livro um
mergulho? Mas este é diferente: além de todas as metáforas aquáticas, tem uma narrativa
que envolve e surpreende, como o próprio mar.
Durante
um bom tempo de leitura, convenci-me de que cada capítulo poderia ser lido como
um conto, tão vastas eram as narrativas e vivências das mulheres protagonistas.
Esqueci-me de que somos múltiplas, e podemos abrigar em nós vivências também
múltiplas, mesmo sendo um indivíduo apenas.
Foi
depois de mais de quarenta páginas que me dei conta de que era uma narrativa
não-linear cronologicamente, mas sobre uma só pessoa: a protagonista Ana.
Violentada
pelo pai na infância e mandada para São Paulo logo depois, não para fugir do
escândalo mas para fugir da fome, Ana seguiu a cartilha da vida: formou-se,
passou um tempo estudando fora, flertou, namorou, casou, adquiriu um cão com
quem passeava no parque nas tardes mornas. Um dia, cansou-se da vida que levava
e resolveu envenenar o marido, Marcelo. Não queria matá-lo, mas tê-lo
inofensivo para ela, incapaz que era de aceitar ou suportar o amor dele por
inteiro.
Não
me esquecerei de que li este livro em doses homeopáticas, um capítulo por dia,
como quem dosa um remédio ou um veneno, para entrar no clima da narrativa.
Minhas mãos suando, marcando a capa naquela primavera escaldante, como vêm
sendo todas as primaveras de uns anos para cá. E em cada página um fôlego
suprimido pela surpresa, até o desfecho perfeito. Bravo!
Trecho favorito: “Um casamento feliz é algo tão
aterrorizante. Porque uma vez dentro dele não há outro lugar para ir”
O veredicto: 5 minions!
EXCELENTE!
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