Mais uma vez, ele: o bullying

 

Nos últimos dias, três coisas interligadas chamaram minha atenção. Foram:

1-    um suicídio

2- um trabalho escolar

3-    um pesadelo


1-    Foi noticiado o suicídio de um menino de 12 anos causado pelo bullying que sofria, tanto dentro da escola quanto da própria família. A notícia repercutiu na sociedade como um todo, virando conversa em diversos ambientes distintos da escola. Por exemplo: uma senhora, minha colega de pilates, contou que seu sobrinho também sofria bullying por ser gordo. Na escola, ela continua o relato, obrigavam o menino a comer grama achando que assim ele emagreceria - mas só servia como humilhação. O menino desenvolveu anorexia e passou quase um mês internado. Mas a senhora arremata: ele superou o bullying. Será mesmo?

2- Comecei recentemente a fazer aulas de italiano. Faço duas vezes na semana, numa sala que de manhã serve para lições de inglês. Na parede, estão afixadas tarefas feitas na aula, e nelas, em meio a desenhos de crianças, estão respostas para perguntas que desconheço. Mas uma resposta, a última, era taxativa: “don’t bully”. É desde criança ensinar e aprender a não praticar bullying. Será que funciona?

3- Eu tenho pesadelos constantes, e neles um medo em comum: ter de voltar para a escola. Em alguns sonho que faltei demais às aulas e / ou preciso fazer provas acontecidas em dias que não frequentei a sala de aula. Tem vezes em que até a matéria é especificada - geralmente química e ciências. Noite passada tive mais um desses pesadelos. Sonhei que fiquei longe da escola desde o começo da pandemia e tinha de voltar para concluir o Ensino Médio, que foi a pior época para mim quanto ao bullying. Quando acordo, vem sempre o alívio: não tenho que voltar para a escola, afinal, não concluí apenas o Ensino Médio, mas também graduações e pós.

Falaram muito no caso do menino do papel da escola, ao que minha mãe, que sempre trabalhou dentro de escolas, reagiu afirmando que as escolas não sabem - ou talvez não queiram - combater o bullying. Vi isso por experiência própria: como brevemente mencionado no meu livro “Menina Bonita com Mania de Fita”, os adultos não sabiam lidar com minha situação. Na escola, colocavam bully (quem fazia) e bullied (quem sofria) frente a frente, para um confronto desigual e desumano. O bully mentia, dizia que “só queremos ser amigos dela, mas ela não dá abertura”. Sei.

Em “Menina Bonita com Mania de Fita”, conto como superei o bullying. Mas será que superei mesmo? Os pesadelos constantes apontam para a resposta negativa. O bullying existe e faz milhões de vítimas todos os anos. Os que não aguentam e se matam são a minoria. Quem sobrevive segue em frente, mas as cicatrizes são eternas. Isso até a menina bonita tem que admitir.

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