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Papel & Película: Ainda Estou Aqui (2024)

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  *A coluna Papel & Película trata de literatura e cinema através de artigos sobre adaptações de obras literárias para o audiovisual. Escrevi a coluna semanalmente durante alguns anos para o finado site Leia Literatura. Este é um artigo inédito* Eu não podia deixar de participar do maior evento cinematográfico do Brasil em 2024: a estreia do nosso candidato ao Oscar e premiado no Festival de Veneza. “Ainda Estou Aqui” já é um sucesso comercial imenso, com mais de 8,5 milhões arrecadados no primeiro final de semana de exibição nos cinemas. Fui no quinto dia após a estreia e contribuí com meus 39 reais para a bilheteria. E não saí da sessão nem um pouco decepcionada. A história contada é de quem fica. Quem fica é Eunice Paiva (Fernanda Torres). Quem vai é seu marido, o ex-deputado Rubens Paiva (Selton Mello). Vai, não: é brutalmente levado por agentes da ditadura para “prestar depoimento”. Dias depois Eunice e sua filha adolescente também são levadas para depor e passam por tortu

Resenha: Fundo, de Beatriz Aquino

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  Um livro que é como um mergulho: assim Beatriz Aquino, minha amiga, definiu seu “Fundo”, desejando na dedicatória “bom mergulho”. Ora, para todo bom leitor, não é todo livro um mergulho? Mas este é diferente: além de todas as metáforas aquáticas, tem uma narrativa que envolve e surpreende, como o próprio mar. Durante um bom tempo de leitura, convenci-me de que cada capítulo poderia ser lido como um conto, tão vastas eram as narrativas e vivências das mulheres protagonistas. Esqueci-me de que somos múltiplas, e podemos abrigar em nós vivências também múltiplas, mesmo sendo um indivíduo apenas. Foi depois de mais de quarenta páginas que me dei conta de que era uma narrativa não-linear cronologicamente, mas sobre uma só pessoa: a protagonista Ana.  Violentada pelo pai na infância e mandada para São Paulo logo depois, não para fugir do escândalo mas para fugir da fome, Ana seguiu a cartilha da vida: formou-se, passou um tempo estudando fora, flertou, namorou, casou, adquiriu um cão

Resenha: Rubaiyat, de Omar Khayyam

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  Virava e mexia, eu entrava no escritório do meu avô e encontrava o livro “Rubaiyat” de Omar Khayyam em cima da escrivaninha. Depois que meu avô se foi, resolvi lê-lo para entender melhor quem foi aquele homem, minha única figura paterna. Ler os livros favoritos de uma pessoa pode ser uma revelação. “Rubaiyat” é um livro de poemas curtos escritos ao longo de vários anos no século XII. O nome da compilação foi dado pelo tradutor inglês Edwards Fitzgerald e significa “quarteto”. Fernando Pessoa foi bastante influenciado pela tradução de Fitzgerald, tanto é que sua edição pessoal, com notas de próprio punho, permanece em exposição na Casa Fernando Pessoa em Lisboa. No Brasil, em 1966 Manuel Bandeira publicou suas traduções para as quadras. Os poemas versam sobretudo acerca da finitude da vida, da necessidade de aproveitar os amores e o vinho antes que seja tarde demais. O tom lúgubre de muitos destes versos se refletia perfeitamente em meu avô, pessoa super-preocupada e taciturna. Ta

Resenha Mirim: A Porta da Aventura, de Teresa Noronha

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  Liliana terminou de fazer a lição, abriu todas as janelas, colocou um disco na vitrola, deitou-se no tapete e ficou a olhar o quadro do avô; fechou olhos e de repente estava no quadro. Resolveu puxar conversa com um homem que estava caminhando na estrada: - Oi! O senhor sabe o nome dessa fazenda? - Não. Aliás, saí de casa de manhã e cheguei aqui, mas estou perdido. - O meu avô falou que este lugar é perto de Petrópolis. - Petrópolis! Eu sou de Bauru! Bem, é melhor eu ir andando! Eles se despediram e Liliana foi caminhando, a fim de chegar a uma casa linda representada no quadro. - Espere por mim! Ela olhou para trás e viu o dicionário que ela usa nas lições caminhando com dificuldade, pois, de fato, ele era gordo. - O que você está fazendo aqui? - É que de tanto ficar naquela estante empoeirada, eu me enjoei e resolvi vir com você nesse passeio.             Para não perder mais tempo, Liliana deixou o dicionário ir junto.             Chegando à casa ela conheceu Cristina e Sua Alteza

Resenha Mirim: Um Gordo Feliz, de Fernando Portela

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  Em dez minutos o time azul já tinha feito dois gols, pois pudera: Esteban, o goleiro, não parava de fantasiar. Se sentia voando num céu de baunilha, cheio de nuvens de brigadeiro e quindim e de repente mergulhou em um... mar de musse! O Super-Esteban voava entre o mar; com a língua esperta pegava o musse sentido o gostinho do cacau; quando ele acorda: - Gol, gol, gol! Outro! Até você pegaria, gordo! Depois que chegou em casa, o gato veio e Esteban o chutou. Arrependido, acolheu o gato e o desculpou. A mãe e o pai, equatorianos, deram uma bronca. Ele via tudo, com seus olhos de detetive, estava vendo agora Ceci, esposa de Rafael, conhecido como “A Saúva Louca”, namorando Marinho, um novo administrador. Esteban achava o amor fantástico, uma coisa linda. Ele era apaixonado por Tereza Cristina, a Tetê. Certo dia deu um envelope para Tetê, dizendo que era para ela não abrir, só quando ele avisasse. Um dia veio a notícia que Ceci e Marinho haviam fugido. Esteban disse para el

Resenha: Assassinato no Campo de Golfe, de Agatha Christie

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  Chegamos ao segundo livro protagonizado pelo detetive belga Hercule Poirot, a mais notável criação da Dama do Crime Agatha Christie. Em vinte e oito capítulos, o investigador cuja cabeça tem um curioso formato de ovo se vê às voltas com dois crimes e usa seu privilegiado cérebro para chegar a mais uma solução surpreendente. Hercule Poirot começa sua carreira internacional com o chamado de um homem rico que, tendo vivido e feito negócios por muitos anos na América do Sul, encontra-se agora morando na França. O pedido de socorro, de perigo iminente, é enviado para Poirot e ele atravessa o Canal da Mancha, mas é tarde demais: quando ele chega, Monsieur Renauld já havia sido assassinado. Quinze dias antes de ser assassinado, o Monsieur Renauld havia mudado seu testamento, deixando toda sua fortuna para a esposa, Madame Renauld, que foi amordaçada e amarrada na cama na noite do crime por dois homens mascarados que falavam alguma coisa sobre um “segredo”. Naquela tarde, o Monsieur Rena

Resenha Mirim: O Matador de Passarinhos, de Luiz Galdino

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  Tavinho estava no seu quarto, olhando através da janela, tão distraído ficou que nem percebeu Zezé entrando em seu quarto, só percebeu quando o amigo abriu a gaveta e começou a bagunçar suas coisas. Ele sentiu raiva, sentiu vontade até de fechar a gaveta nos dedos dele, mas não podia. Primeiro: sua mãe era comadre da mãe de Tavinho e segundo: ele era irmão de Lucimar, com quem ele vivia a sonhar de olhos abertos. Quando Zezé viu os estilingues de Tavinho logo disse: - Tá louco! Esses estilingues não servem para nada, não matam nem um pássaro que pousar no seu nariz! Dizendo isso, tirou um estilingue do bolso, que diz ter trocado com o Lico. Tirando a “peça” pendurou-a no seu pescoço, deixando bem à mostra, e para desanimar ainda mais Tavinho o convidou para caçar pássaros. Sem muita vontade ele foi e quase por milagre matou uma rolinha. De noite ficou com remorso, pois havia matado um pássaro, que nada mais tinha feito do que voar, com suas cores encantar a natureza e