DPL: Resenha: Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll
Está
muito na moda ler distopias. Distopia é o oposto da utopia, ou seja,
algo muito longe de uma realidade perfeita. Nas distopias, é comum
encontrar governos totalitários, guerras iminentes e uma realidade
“distorcida”. É o mundo de cabeça para baixo. Se você pensa
que distopia é um conceito novo, está muito enganado. Décadas
antes de Suzanne Collins, e companhia, já havia grandes distopias no
mundo literário, como “1984”, de George Orwell, “Admirável
Mundo Novo”, de Aldous Huxley, “O Processo”, de Franz Kafka e
“Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll.
Você
já deve conhecer algumas das passagens de Alice, provavelmente
devido a uma das várias adaptações da história para o cinema. A
questão é que não importa a ordem das aventuras de Alice, e nem se
elas aconteceram todas no mesmo dia ou em dias separados. O que
importa é que um dia a menina Alice seguiu um coelho branco que
estava atrasado e encontrou um mundo onde lebres tomam chá com
chapeleiros e rainhas do baralho mandam cortar a cabeça de seus
súditos.
Tem
governo totalitário? Taí nossa Rainha de Copas! Ela manda seus
jardineiros pintarem as rosas, joga críquete com tacos de flamingos
vivos, manda e desmanda no marido e, claro, tem como bordão
“cortem-lhe a cabeça!”.
Criaturinhas
estranhas não são regra para as distopias, mas são bem-vindas
(considero Star Wars uma distopia, e lá está o bom e peludo
Chewbacca). Bem, Alice encontra muitas criaturas bizarras: o gato de
Cheshire, com um sorriso perturbador, a Lebre Maluca e o Chapeleiro
Louco, uma lagarta ligeiramente drogada e os estranhos irmãos
Tweedledee e Tweedledum (que na verdade estão na continuação do
País das Maravilhas, “Através do Espelho”, mas mesmo assim
aparecem no filme da Disney).
E
no meio de tudo isso está nossa heroína Alice, a personagem com a
qual devemos nos identificar. Ela é a pessoa normal tentando
encontrar algum sentido naquele mundo estranho. Mais do que isso, ela
precisa se ver livre do “sistema”: você preferia que Alice
voltasse para casa ou que ficasse para sempre no País das
Maravilhas?
Mas
há muito mais entre o céu e a terra do País das Maravilhas do que
suspeita nossa vã filosofia. Ao contrário de muitos autores atuais,
que simplesmente doa total vazão à criatividade em suas distopias,
Lewis Carroll encheu as passagens de significados. Simplesmente ler o
livro é uma coisa. Ler uma edição cheia de notas de rodapé é
outra coisa: uma descoberta fascinante a cada página e um
entendimento mais profundo da obra, do autor e de suas inspirações.
Muito do que foi escrito são “piadas internas” feitas
especialmente para a amiga e primeira ouvinte da história, Alice
Liddell.
Lewis
Carroll era também um professor de matemática e entusiasta da
lógica, e recheou sua obra de pequenos truques. Como homem de seu
tempo, Carroll parodia poemas que estavam na moda na Inglaterra do
século XIX, e faz referências a outras obras literários que os
leitores daquela época e lugar conheciam bem. Por isso uma edição
comentada (como a que abre o post) é imprescindível.
Sabe
o que faz toda a diferença também? As ilustrações originais de
John Tenniel. Como um livro “para crianças” que também pode ser
muito apreciado por adultos, é natural que encontremos ilustrações.
Mas não são imagens quaisquer: em preto e branco, com traços
finos, imaginativos e cheios de detalhes. Sem dúvida o trabalho de
Tenniel influenciou todas as futuras adaptações da história de
Alice para os cinemas.
“Alice
no País das Maravilhas” não deve ser lido apenas uma vez. Na
primeira leitura você entende o cerne da história e conhece as
principais personagens, caso não as conhecesse antes. E, a cada
releitura, você descobre uma novidade que brinca com seus neurônios,
que te deixa mais culto e que torna a obra cada vez mais interessante
– e mais doida.
O
veredicto: 5 minions!
EXCELENTE!
Já li o livro e não era edição comentada. Eu já gostei muito, não sendo, portanto acho que ia gostar mais. Não tinha parado para pensar nesse ponto de sociedade totalitária e achei interessante. Percebi mais a questão do jogo adulto x criança, em que ela (criança) se vê em um mundo (adulto) que tenta compreender, e que ora a atrai, ora a repulsa. Também não acho ela normal, percebo é meio "doidinha" e sincera como toda criança. haha Tinha até escrito sobre isso no meu blog. Beijos!
ResponderExcluirAgora fiquei curiosa para ler essa edição comentada! Muito bom seu texto Lê <3
ResponderExcluirBeijos, Pri
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