Resenha: Doze anos de escravidão, de Solomon Northup
Até a entrega do Oscar de 2014, eu nunca tinha ouvido falar em Solomon
Northup. De fato, o homem de vida extraordinária fez sucesso com a publicação
de sua autobiografia, mas passou muitas décadas esquecido pelo público. Voltar
a lê-lo é mergulhar em uma das muitas manchas da história da humanidade, é
relembrar uma atrocidade que jamais deve ser cometida novamente e é, em
especial, se surpreender com o caráter humano a cada página.
Solomon Northup era um homem negro, livre, habilidoso e
inteligentíssimo. Ele morava perto de Washington com a mulher e três filhos e,
uma noite, depois de negociar um trabalho como violinista em um circo
itinerante, ele foi enganado por dois homens, que o drogaram, roubaram seus
documentos e o venderam como escravo. A partir daí, Solomon viveria as mais
cruéis provações por uma dúzia de anos, durante os quais sua liberdade e sua identidade
lhe foram tiradas.
O vocabulário do livro é esplêndido. Sim, é uma tradução para o
português, mas não tenho dúvidas de que o texto original de Solomon Northup é
também muito culto e rico em detalhes. A maneira como ele relembra e descreve
seus companheiros de cárcere, as situações absurdas nas fazendas e os muitos
castigos é espantosa, mostrando um talento nato do autor para a escrita, além
de uma memória fora do comum.
A cultura de Solomon é vista não apenas em sua vida pré-escravidão, na
qual ele era um hábil violinista e engenhoso autodidata, mas ao longo da
narrativa encontramos, abismados, comparações e citações que a maioria dos
homens livres e cultos do século XIX (e quiçá os de hoje) jamais conheceria.
Ele cita a Bíblia e personagens da história que só são conhecidos através das
notas de rodapé.
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Esta é a primeira edição do livro, de 1853 |
O diretor do filme, Steve McQueen, comparou a importância do livro de
Solomon ao Diário de Anne Frank, e ele tem muitos motivos para fazê-lo: ambos
apresentam o pior do ser humano, causam muita tensão no leitor e são obras
fundamentais para entender a história da humanidade. No Brasil não tivemos
nenhuma voz escrava que deixasse em livro suas experiências pessoais na torpe
instituição da escravidão, mas há algo de universal no sofrimento de Solomon Northup.
Atrevo-me a dizer que Solomon Northup, com sua narrativa, foi o homem
mais importante do século XIX (ficaria então Abraham Lincoln em segundo lugar?
Uhm...). O mais impressionante é sua conclusão: ao final do livro ele diz que
seu defeito é encontrar algo positivo em
todas as situações. Sim, você pode imaginar os horrores que Solomon sofreu
elevados à décima potência para ter uma ideia do que foi a escravidão.
O filme ganhador de três Oscars é muito, muito bom. Mas a leitura do
livro é imprescindível. É toda uma nova percepção quando conhecemos a história
através de quem a viveu. É mais tocante, mais sofrível, mais humano.
O veredicto: 5 minions!
EXCELENTE!
P.S.: Leia AQUI a crítica do filme!
Ai deve ser um livro delicioso de ler!
ResponderExcluirO filme não achei tanto. Achei pesado sabe e de uma violência real, diferente das mostradas em filmes de western ou do Tarantino.
Nunca tinha visto algo assim, nem em A Lista de Schindler.
Amei a resenha e o filme mais que mereceu o Óscar!
Beijos <3
Não sabia que livro tinha sido traduzido pra o Brasil, ignorância minha lol
ResponderExcluirGostei de sua resenha, pretendo lê-lo, pois adorei o filme.
Beijos!
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