Resenha: O Inimigo Secreto, de Agatha Christie

 

Em minha casa, apreciamos Hercule Poirot. Minha mãe tem uma pequena porém robusta coleção de livros com aquele que é, talvez com alguma sombra de dúvida, o personagem mais famoso criado pela escritora britânica Agatha Christie. Já havia lido, da coleção, “Assassinato no Expresso do Oriente” e “A Morte no Nilo”, leituras que fiz para comparar com as adaptações cinematográficas destas obras.

Quando o grupo de leitura do site Feito por Elas criou um subgrupo para leitura cronológica dos livros de Christie, eu soube que não podia ficar de fora. Como tenho uma lista enorme de outros livros que quero ler, decidi me juntar ao grupo de leituras só quando fossem discutidas obras que tenho em livro físico.

E isso aconteceu relativamente cedo, com “O Inimigo Secreto”. Com ele descobri muito sobre Christie, e também conheci os Jovens Aventureiros, Tommy e Tuppence. Fiquei surpresa ao descobrir que Agatha Christie publicou seu primeiro livro apenas aos 30 anos. O hábito da escrita em sua vida surgiu durante a Primeira Guerra Mundial, desafiada pela irmã.


Depois de terminada a Primeira Guerra Mundial e encontrando-se sem emprego e com necessidade urgente de dinheiro, os amigos Tommy e Tuppence se apresentam, através de um anúncio de jornal, como aventureiros dispostos a qualquer negócio. Eles logo são contatados por dois homens com o mesmo objetivo: encontrar uma jovem chamada Jane Finn, sobrevivente do naufrágio do navio Lusitânia que simplesmente desapareceu quando pisou em terra firme. Um destes homens, o Sr Carter, financia a aventura da dupla, enquanto o outro, Julius Hersheimmer, se apresenta como primo da desaparecida e se soma à dupla.

Jane Finn, durante o trágico naufrágio, havia recebido de um homem chamado Danvers uma pasta contendo um tratado que poderia por fim à guerra. Terminado o conflito, o documento ainda despertava interesse, desta vez de pessoas preparando um golpe comunista (insiro aqui minha virada de olhos verbal).

A reviravolta ao final, elemento pelo qual Agatha Christie se tornou famosa, está presente aqui mas não me pegou desprevenida: muitas páginas antes, já desconfiava de qual era a identidade assumida pelo Sr Brown. Não é à toa que eu queria ser detetive quando era pequena!


Papel & Película

Em nossa discussão no grupo de leitura, descobri que havia uma adaptação de “O Inimigo Secreto” para o cinema feita em 1929 e disponível no YouTube! Trata-se da primeira adaptação de um livro de Christie feita fora do Reino Unido. Hoje, de acordo com o IMDb, já foram feitas 185 adaptações da obra de Agatha Christie para o cinema e televisão em diversos países, e mais dez estão em processo de pré-produção ou gravação.

“Die Abenteurer G. m. b. H.” está disponível apenas com cartelas de texto em francês e holandês - nada que impeça que eu, que estudo alemão, entendo um pouco de francês e já vi filmes mudos com cartelas em holandês, assista e aprecie.

No filme, Jeanette Finné (Elfriede Borodin) e o irmão Georges (Eberhard Leithoff) são agentes secretos a bordo do navio Herculania. Quando ele afunda, Georges confia a Jeanette alguns documentos secretos. No barco de resgate, Jeanette é acolhida por e levada para a casa de Rita van der Meer (Hilda Bayley).

Entram em cena os Jovens Aventureiros, rebatizados de Pierre Lafitte (Carlo Aldini) e Lucienne Fereoni (Eve Gray). Julius Hersheimmer, por sua vez, se transforma em George Herward (Mikhail Rasummy) e outro personagem assume o papel de Mr Brown, ou melhor, X. Para criar suspense, são adicionadas sequências de perseguição em telhados e com carros, que não existiam no livro. Fora isso, é uma adaptação até que bem fiel, e a todo momento me lembrava da história de Agatha para poder acompanhar o desenrolar da trama do filme.

O roteiro do filme é assinado por Jane Bess, que havia feito sua estreia no cinema dez anos antes. Bess, que era uma grande esportista quando não estava escrevendo roteiros, foi ela própria criadora de detetives célebres, como o detetive Mortens, que apareceu em meia dúzia de filmes, e a detetive Madge Henway. Com a ascensão do nazismo, ela migrou para a Holanda, mas foi durante sua estadia na França que ela foi capturada, em 1944, e mandada para Auschwitz, onde foi assassinada na câmara de gás.

 

Essa primeira leitura do grupo foi bem proveitosa. Voltar aos livros de Agatha Christie é como reencontrar uma velha amiga e perceber que o tempo não modificou o que sentimos uma pela outra. Com sua dupla “menos famosa” de investigadores, ela é capaz de criar um bom suspense, por isso dou minha nota:

O VEREDICTO: 4 minions!


ÓTIMO!

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