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Mostrando postagens de 2024

Retrospectiva 2024

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  No Twitter – que sucumbiu conhecido como X e voltou xoxo, capenga, manco, anêmico, frágil e inconsistente – cheguei a dizer que fiquei nove anos sem publicar um livro, mas num único ano publicaria cinco títulos. Foram cinco títulos, mas três livros, pois em 2024 lancei minha carreira como escritora internacional para além de minhas críticas de cinema. O ano começou com uma peleja: estava tendo dificuldades para publicar a versão em inglês do Dossiê Agnès Varda, chamado The Agnès Varda Files. Consegui solucionar o problema nos primeiros dias do ano, mas a versão em português, publicada em dezembro de 2023, fez bem mais sucesso. Chegamos ao vigésimo quarto lugar nas categorias “História, teoria e crítica” e “Cinema e televisão”. E quem leu aprovou! Durante 2024, fui selecionada para três antologias do Projeto Apparere da Editora PerSe, pela qual publiquei meus dois primeiros livros, há mais de uma década. Pretendo prestigiar meus colegas escritores lendo os textos deles nas ant...

Apresentando a Menina Bonita com Mania de Fita

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  Meu principal projeto literário de 2024 foi publicar meu primeiro livro infantojuvenil em três línguas: português , inglês e espanhol . Como muito me interessa a inclusão e acessibilidade, este livro conta com QR Code para acessar a audiodescrição das ilustrações. E que ilustrações! Entrei em contato com uma ilustradora que admirava à distância faz tempo, a Clara Assis , para que ela bolasse imagens do jeitinho que eu queria, com um toque retrô inspirado no filme “Fazendo Fita / Show People” (1928). Este é um livro autobiográfico. É sobre uma menina que sofreu bullying e o venceu, é o que diz a sinopse. E o venceu, já dando um pequeno spoiler, com ajuda da sétima arte, ele, minha paixão: o cinema. O título do livro tem duas explicações. A primeira é bem óbvia: foi inspirado em “Menina Bonita do Laço de Fita”, de Ana Maria Machado, clássico da literatura infantil que só fui ler já adulta. Uma curiosidade: como a autora, minha mãe se chama Ana Maria – mas não é Ana Maria Machado, e...

Resenha: A contadora de filmes, de Hernán Rivera Letelier

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Cinema é tudo para mim. Foi o que me deu forças para continuar no momento mais difícil da minha vida. É o meu combustível diário, minha paixão, minha profissão*. Sem cinema tenho sintomas de abstinência, e a vida perde um pouco o colorido. Por isso eu leio tudo sobre cinema. Por isso eu li “A contadora de filmes” há muitos anos. Por isso reli o livro para refrescar a memória e me preparar para a estreia da adaptação cinematográfica. Maria Margarita é a mais nova entre cinco irmãos, todos os outros homens. O pai sofrera um acidente de trabalho nas minas de sal, deixando-o paralisado da cintura para baixo. A mãe abandonara a família quando a desgraça se abateu. O dinheiro era contado, para os bens essenciais e para o bem mais essencial para a mente: uma ida semanal ao cinema. Houve um concurso entre os filhos: quem contasse melhor o filme visto, com mais riqueza de detalhes, ganharia o direito - o dever! Um dever deveras prazeroso - de ir semanalmente ao cinema e voltar para casa para ...

Papel & Película: Ainda Estou Aqui (2024)

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  *A coluna Papel & Película trata de literatura e cinema através de artigos sobre adaptações de obras literárias para o audiovisual. Escrevi a coluna semanalmente durante alguns anos para o finado site Leia Literatura. Este é um artigo inédito* Eu não podia deixar de participar do maior evento cinematográfico do Brasil em 2024: a estreia do nosso candidato ao Oscar e premiado no Festival de Veneza. “Ainda Estou Aqui” já é um sucesso comercial imenso, com mais de 8,5 milhões arrecadados no primeiro final de semana de exibição nos cinemas. Fui no quinto dia após a estreia e contribuí com meus 39 reais para a bilheteria. E não saí da sessão nem um pouco decepcionada. A história contada é de quem fica. Quem fica é Eunice Paiva (Fernanda Torres). Quem vai é seu marido, o ex-deputado Rubens Paiva (Selton Mello). Vai, não: é brutalmente levado por agentes da ditadura para “prestar depoimento”. Dias depois Eunice e sua filha adolescente também são levadas para depor e passam por t...

Resenha: Fundo, de Beatriz Aquino

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  Um livro que é como um mergulho: assim Beatriz Aquino, minha amiga, definiu seu “Fundo”, desejando na dedicatória “bom mergulho”. Ora, para todo bom leitor, não é todo livro um mergulho? Mas este é diferente: além de todas as metáforas aquáticas, tem uma narrativa que envolve e surpreende, como o próprio mar. Durante um bom tempo de leitura, convenci-me de que cada capítulo poderia ser lido como um conto, tão vastas eram as narrativas e vivências das mulheres protagonistas. Esqueci-me de que somos múltiplas, e podemos abrigar em nós vivências também múltiplas, mesmo sendo um indivíduo apenas. Foi depois de mais de quarenta páginas que me dei conta de que era uma narrativa não-linear cronologicamente, mas sobre uma só pessoa: a protagonista Ana.  Violentada pelo pai na infância e mandada para São Paulo logo depois, não para fugir do escândalo mas para fugir da fome, Ana seguiu a cartilha da vida: formou-se, passou um tempo estudando fora, flertou, namorou, casou, adquir...

Resenha: Rubaiyat, de Omar Khayyam

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  Virava e mexia, eu entrava no escritório do meu avô e encontrava o livro “Rubaiyat” de Omar Khayyam em cima da escrivaninha. Depois que meu avô se foi, resolvi lê-lo para entender melhor quem foi aquele homem, minha única figura paterna. Ler os livros favoritos de uma pessoa pode ser uma revelação. “Rubaiyat” é um livro de poemas curtos escritos ao longo de vários anos no século XII. O nome da compilação foi dado pelo tradutor inglês Edwards Fitzgerald e significa “quarteto”. Fernando Pessoa foi bastante influenciado pela tradução de Fitzgerald, tanto é que sua edição pessoal, com notas de próprio punho, permanece em exposição na Casa Fernando Pessoa em Lisboa. No Brasil, em 1966 Manuel Bandeira publicou suas traduções para as quadras. Os poemas versam sobretudo acerca da finitude da vida, da necessidade de aproveitar os amores e o vinho antes que seja tarde demais. O tom lúgubre de muitos destes versos se refletia perfeitamente em meu avô, pessoa super-preocupada e taciturna...

Resenha Mirim: A Porta da Aventura, de Teresa Noronha

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  Liliana terminou de fazer a lição, abriu todas as janelas, colocou um disco na vitrola, deitou-se no tapete e ficou a olhar o quadro do avô; fechou olhos e de repente estava no quadro. Resolveu puxar conversa com um homem que estava caminhando na estrada: - Oi! O senhor sabe o nome dessa fazenda? - Não. Aliás, saí de casa de manhã e cheguei aqui, mas estou perdido. - O meu avô falou que este lugar é perto de Petrópolis. - Petrópolis! Eu sou de Bauru! Bem, é melhor eu ir andando! Eles se despediram e Liliana foi caminhando, a fim de chegar a uma casa linda representada no quadro. - Espere por mim! Ela olhou para trás e viu o dicionário que ela usa nas lições caminhando com dificuldade, pois, de fato, ele era gordo. - O que você está fazendo aqui? - É que de tanto ficar naquela estante empoeirada, eu me enjoei e resolvi vir com você nesse passeio.             Para não perder mais tempo, Liliana deixou o dicionário ir junto. ...

Resenha Mirim: Um Gordo Feliz, de Fernando Portela

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  Em dez minutos o time azul já tinha feito dois gols, pois pudera: Esteban, o goleiro, não parava de fantasiar. Se sentia voando num céu de baunilha, cheio de nuvens de brigadeiro e quindim e de repente mergulhou em um... mar de musse! O Super-Esteban voava entre o mar; com a língua esperta pegava o musse sentido o gostinho do cacau; quando ele acorda: - Gol, gol, gol! Outro! Até você pegaria, gordo! Depois que chegou em casa, o gato veio e Esteban o chutou. Arrependido, acolheu o gato e o desculpou. A mãe e o pai, equatorianos, deram uma bronca. Ele via tudo, com seus olhos de detetive, estava vendo agora Ceci, esposa de Rafael, conhecido como “A Saúva Louca”, namorando Marinho, um novo administrador. Esteban achava o amor fantástico, uma coisa linda. Ele era apaixonado por Tereza Cristina, a Tetê. Certo dia deu um envelope para Tetê, dizendo que era para ela não abrir, só quando ele avisasse. Um dia veio a notícia que Ceci e Marinho haviam fugido. Esteban disse par...

Resenha: Assassinato no Campo de Golfe, de Agatha Christie

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  Chegamos ao segundo livro protagonizado pelo detetive belga Hercule Poirot, a mais notável criação da Dama do Crime Agatha Christie. Em vinte e oito capítulos, o investigador cuja cabeça tem um curioso formato de ovo se vê às voltas com dois crimes e usa seu privilegiado cérebro para chegar a mais uma solução surpreendente. Hercule Poirot começa sua carreira internacional com o chamado de um homem rico que, tendo vivido e feito negócios por muitos anos na América do Sul, encontra-se agora morando na França. O pedido de socorro, de perigo iminente, é enviado para Poirot e ele atravessa o Canal da Mancha, mas é tarde demais: quando ele chega, Monsieur Renauld já havia sido assassinado. Quinze dias antes de ser assassinado, o Monsieur Renauld havia mudado seu testamento, deixando toda sua fortuna para a esposa, Madame Renauld, que foi amordaçada e amarrada na cama na noite do crime por dois homens mascarados que falavam alguma coisa sobre um “segredo”. Naquela tarde, o Monsieur ...

Resenha Mirim: O Matador de Passarinhos, de Luiz Galdino

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  Tavinho estava no seu quarto, olhando através da janela, tão distraído ficou que nem percebeu Zezé entrando em seu quarto, só percebeu quando o amigo abriu a gaveta e começou a bagunçar suas coisas. Ele sentiu raiva, sentiu vontade até de fechar a gaveta nos dedos dele, mas não podia. Primeiro: sua mãe era comadre da mãe de Tavinho e segundo: ele era irmão de Lucimar, com quem ele vivia a sonhar de olhos abertos. Quando Zezé viu os estilingues de Tavinho logo disse: - Tá louco! Esses estilingues não servem para nada, não matam nem um pássaro que pousar no seu nariz! Dizendo isso, tirou um estilingue do bolso, que diz ter trocado com o Lico. Tirando a “peça” pendurou-a no seu pescoço, deixando bem à mostra, e para desanimar ainda mais Tavinho o convidou para caçar pássaros. Sem muita vontade ele foi e quase por milagre matou uma rolinha. De noite ficou com remorso, pois havia matado um pássaro, que nada mais tinha feito do que voar, com suas cores encantar a nature...

Resenha Mirim: Danico Pé de Vento, de Isabel Vieira

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                 Daniel entrou na sala e começaram as risadas:             - Hein! Nanico! Aqui é a quinta A, o jardim e o pré são no outro prédio!               Ele suspirou, à procura de alguma carteira vazia. Finalmente encontrou uma na sexta fileira. Uma garota que sentava ao lado tentou “puxar um papo”.             - Oi, meu nome é Alícia. Qual é o seu? Para quem é essa carteira?             - Essa carteira é para minha irmã, Milena. Eu me chamo Daniel e...             - Danico, Danico! – uma voz tristonha interrompeu, era a irmã dele – querem nos separar. Me colocaram na quinta C!           ...

Resenha Mirim: O Mistério do Galeão, de Gláucia Lemos

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                         A baleia Valderez resolveu fazer uma reunião onde deveriam comparecer todos os habitantes do mar. Nessa reunião deveriam ser discutidos vários problemas pessoais e um problema comunitário: um ser estranho estava morando naquelas águas. A primeira reunião não foi muito proveitosa: aconteceram algumas brigas e nada fora resolvido. Um dia Golfito, o golfinho, foi assustadíssimo procurar Valderez. Ele disse a ela que tinha visto o “monstro”, então convocaram uma reunião imediata. - Vamos, Golfito! – disse a baleia, já em assembleia – descreva o “monstro”! - Estava perto do galeão submerso, quando vi dois chifres se erguendo do chão, depois, apareceu um animal enorme. Parecia que ele era coberto por um manto. “Temos que combatê-lo”, pensou Valderez. Perguntou quem se oferecia para essa missão. Logo apareceram os voluntários: Jubarte, Cachalote, Atum, Tunídeo, Tintureiro, Peixe-fogo, Tubarão- m...

Resenha Mirim: O Segredo de Tonhão, de Aurélio de Oliveira

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Resolvi que a primeira Resenha Mirim que publicarei será uma que me levou a uma situação atípica: tirei zero na lição... porque o livro era escrito na primeira pessoa, e assim escrevi também o resumo, mas eu precisava ter escrito em terceira pessoa. Ninguém me falou isso, e só depois de escrita a resenha fiquei sabendo desta exigência. Enfim, aqui vai a Resenha Mirim de hoje: Meu nome é Antônio, porém meu pai me chama de Tonhão. Eu gostaria que me chamassem de Toninho, porque ainda sou meio pequeno. Minha avó me chama de ¨Tononho¨, porém ela é portuguesa. Minha mãe me chama de Tony: -Tony, o jantar está na mesa!             Certa vez cismei que todos deviam me chamar de Tom. Até que descobri que um colega tinha um cão com esse nome. Só minha irmã Mabel me chamava de Tom.                    Meu pai me contava sobre seus tempos de criança. Ele co...

Apresentando a Resenha Mirim

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  Foi com muita surpresa que descobri que o post mais acessado do blog é minha resenha, quase sinopse estendida, de “Um Dono para Buscapé” . Imagino que os acessos venham de crianças que leram o livro e que queiram saber mais sobre ele… ou provavelmente de crianças que tinham de ler o livro mas não o fizeram e apelaram para o resumo. De qualquer modo, acendeu uma luzinha na minha cabeça: resenhas de livros infantis bombam. E foi também uma grata surpresa quando, mexendo em coisas antigas, encontrei resenhas que fiz de livros que li entre nove e dez anos, na antiga quarta série. Na época, eu me dedicava muito à literatura, pois, além de ler o livro designado durante a semana, o relia na manhã de sexta-feira, pois à tarde na escola tinha que recontar o livro e não queria esquecer nenhum detalhe. Com essa constatação, essa descoberta e essas memórias, resolvi criar uma nova seção no blog: a resenha mirim. Digitei as resenhas que encontrei da quarta série, e pretendo compartilhá-...

Papel & Película: Confissões de uma garota excluída

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  *A coluna Papel & Película trata de literatura e cinema através de artigos sobre adaptações de obras literárias para o audiovisual. Escrevi a coluna semanalmente durante alguns anos para o finado site Leia Literatura. Este é um artigo inédito* Para tudo, Brasil, polo Norte e China! É assim que a protagonista do livro “Confissões de uma garota excluída, mal-amada e (um pouco) dramática” se expressa em diversas ocasiões. É um livro fofo e previsível de Thalita Rebouças. Foi meu companheiro de aeroporto em cinco viagens ao longo de dois anos. Sim, eu só o lia esperando o horário do voo, e a narrativa é tão simples que não fazia mal haver um grande intervalo de tempo entre as vezes que eu pegava o livro. Além da história bem previsível, a autora salpicou algumas receitinhas fáceis que eram feitas pela protagonista, Tetê - apelido para o exótico nome “Teanira” -, uma menina que viu sua vida virar de cabeça para baixo quando o pai perdeu o emprego e ela precisou ir morar com os ...

Resenha: O Inimigo Secreto, de Agatha Christie

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  Em minha casa, apreciamos Hercule Poirot. Minha mãe tem uma pequena porém robusta coleção de livros com aquele que é, talvez com alguma sombra de dúvida, o personagem mais famoso criado pela escritora britânica Agatha Christie. Já havia lido, da coleção, “Assassinato no Expresso do Oriente” e “A Morte no Nilo”, leituras que fiz para comparar com as adaptações cinematográficas destas obras. Quando o grupo de leitura do site Feito por Elas criou um subgrupo para leitura cronológica dos livros de Christie, eu soube que não podia ficar de fora. Como tenho uma lista enorme de outros livros que quero ler, decidi me juntar ao grupo de leituras só quando fossem discutidas obras que tenho em livro físico. E isso aconteceu relativamente cedo, com “O Inimigo Secreto”. Com ele descobri muito sobre Christie, e também conheci os Jovens Aventureiros, Tommy e Tuppence. Fiquei surpresa ao descobrir que Agatha Christie publicou seu primeiro livro apenas aos 30 anos. O hábito da escrita em sua ...